
Eu tinha uns dois dias quando eles vieram.
Tendo me apunhalado no coração, eles dançaram de forma selvagem em volta do meu berço.
- "Impossível" - eu gritei, e voltei a dormir.
Mais uma vez, eu era Ícaro, olhando diretamente nos olhos do sol. Aproximei-me de uma nuvem recém-nascida e imergi prontamente dentro dela. A nuvem me abraçou enquanto eu confiantemente absorvia seu oxigênio, deixando sua brancura fluir pela minha cabeça e aprender todos os meus pensamentos. Mergulhado no êxtase, eu mal percebi o abraço se apertando a cada respiração minha, passando do suave ao violento. Paralisado, eu engasguei a medida que o ar se tornava um veneno pesado. Eu era uma mosca presa em uma planta carnívora, ouvi as batidas do coração da criatura que me comeu, uma batida onipresente, um hipnotizante super poderoso. Respirando meu último suspiro, reconheci nele o som da dança da morte da qual eu tinha escapado.
Estava de volta no meu berço, cercado por um silêncio absoluto que negava tudo o que tinha acontecido. Desacreditado, olhei para o meu peito e chorei, vendo uma chaga aberta. Como se famintos pelas minhas lágrimas, eles se aproximaram, emergindo das sombras.
- "Você acabou fugindo exatamente para onde nós nos escondemos". Não disse nada.
- "Você espera que nós fiquemos para sempre sem dentes, como nos livros infantis. Mas a infância acaba. E aí crescem nossos dentes".
Eles me colocaram em uma cela, no meio da qual cresceu um cardo. Seus espinhos eram tão leves que a cada respiração eles se soltavam e furavam minha pele. Eu não me atrevia a olhar para ele, com medo de que pudesse machucar meus olhos. Fiquei faminto por dias. Então, um dia, o cardo floresceu e um deles veio colher as sementes. Eu corri na sua direção e agarrei uma para comer.
- "Comida para o pensamento" - ele disse, e saiu.
A semente, ao invés de ir para o estômago, foi direto para meu cérebro. E começou a crescer, germinando não em brotos, mas em pensamentos. Uma rajada de pensamentos selvagens invadiu meu crânio, procriando-se ali loucamente, faminta por meu infante córtex. Logo meu reino estava conquistado e eu deitei derrotado no chão e chorei, vendo os invasores estuprando todas as minhas filhas, que eram então devoradas por seus bastardos recém-nascidos. Quando meu coração inchado estava preste a explodir, um deles entrou na cela, afastando as criaturas.
- "Você despreza os parasitas" - ele disse, segurando uma das sementes. - "Mas você os deixa sem escolha até se tornar um simbionte". Eu não disse nada. - "Você pode ir agora. O lugar não mais importa". Quando fiquei em pé e andei até a porta, uns últimos espinhos do cardo voaram e furaram minha pele.
Eu andei por uma estrada que passava por uma terra devastada. Pela estrada, havia postes de luz, e quando a noite chegou, centenas de mariposas vieram voar nos seus brilhos. Elas se agitavam nervosamente em volta dos postes, como se lutassem umas com as outras pela luz. Mas logo seus movimentos se harmonizaram, e elas giravam com felicidade em volta das lâmpadas, realizando suas danças de alegria. Eram crianças andando em carrosséis brilhantes, cujas músicas enchiam o lugar inteiro. De repente, acabando com a melodia, as luzes se apagaram, e as mariposas desnorteadas se espalharam caoticamente, ficando presas em teias de aranha. Eu, impotente, observava a estrada se tornar seus túmulos comuns e chorava por elas, pois elas nem sabiam por quem tinham sido comidas. O massacre mal tinha terminado e as luzes voltaram, atraindo centenas de outras mariposas. Eu joguei pedras nas lâmpadas para impedir o que estava por vir, mas meu braço estava muito fraco para quebrá-las.
- "Você chora pelas mariposas" - Eu ouvi por trás de mim - "Se elas não tivessem morrido, você choraria pelas aranhas famintas". Eu me virei e vi um deles, com seus olhos pretos refletindo meu ódio.- "Eu choro por ambas" – disse, e sai da estrada, enquanto cada passo meu a frente profanava a dignidade das assassinadas.
De repente, a história acaba.
Tendo me apunhalado no coração, eles dançaram de forma selvagem em volta do meu berço.
- "Impossível" - eu gritei, e voltei a dormir.
Mais uma vez, eu era Ícaro, olhando diretamente nos olhos do sol. Aproximei-me de uma nuvem recém-nascida e imergi prontamente dentro dela. A nuvem me abraçou enquanto eu confiantemente absorvia seu oxigênio, deixando sua brancura fluir pela minha cabeça e aprender todos os meus pensamentos. Mergulhado no êxtase, eu mal percebi o abraço se apertando a cada respiração minha, passando do suave ao violento. Paralisado, eu engasguei a medida que o ar se tornava um veneno pesado. Eu era uma mosca presa em uma planta carnívora, ouvi as batidas do coração da criatura que me comeu, uma batida onipresente, um hipnotizante super poderoso. Respirando meu último suspiro, reconheci nele o som da dança da morte da qual eu tinha escapado.
Estava de volta no meu berço, cercado por um silêncio absoluto que negava tudo o que tinha acontecido. Desacreditado, olhei para o meu peito e chorei, vendo uma chaga aberta. Como se famintos pelas minhas lágrimas, eles se aproximaram, emergindo das sombras.
- "Você acabou fugindo exatamente para onde nós nos escondemos". Não disse nada.
- "Você espera que nós fiquemos para sempre sem dentes, como nos livros infantis. Mas a infância acaba. E aí crescem nossos dentes".
Eles me colocaram em uma cela, no meio da qual cresceu um cardo. Seus espinhos eram tão leves que a cada respiração eles se soltavam e furavam minha pele. Eu não me atrevia a olhar para ele, com medo de que pudesse machucar meus olhos. Fiquei faminto por dias. Então, um dia, o cardo floresceu e um deles veio colher as sementes. Eu corri na sua direção e agarrei uma para comer.
- "Comida para o pensamento" - ele disse, e saiu.
A semente, ao invés de ir para o estômago, foi direto para meu cérebro. E começou a crescer, germinando não em brotos, mas em pensamentos. Uma rajada de pensamentos selvagens invadiu meu crânio, procriando-se ali loucamente, faminta por meu infante córtex. Logo meu reino estava conquistado e eu deitei derrotado no chão e chorei, vendo os invasores estuprando todas as minhas filhas, que eram então devoradas por seus bastardos recém-nascidos. Quando meu coração inchado estava preste a explodir, um deles entrou na cela, afastando as criaturas.
- "Você despreza os parasitas" - ele disse, segurando uma das sementes. - "Mas você os deixa sem escolha até se tornar um simbionte". Eu não disse nada. - "Você pode ir agora. O lugar não mais importa". Quando fiquei em pé e andei até a porta, uns últimos espinhos do cardo voaram e furaram minha pele.
Eu andei por uma estrada que passava por uma terra devastada. Pela estrada, havia postes de luz, e quando a noite chegou, centenas de mariposas vieram voar nos seus brilhos. Elas se agitavam nervosamente em volta dos postes, como se lutassem umas com as outras pela luz. Mas logo seus movimentos se harmonizaram, e elas giravam com felicidade em volta das lâmpadas, realizando suas danças de alegria. Eram crianças andando em carrosséis brilhantes, cujas músicas enchiam o lugar inteiro. De repente, acabando com a melodia, as luzes se apagaram, e as mariposas desnorteadas se espalharam caoticamente, ficando presas em teias de aranha. Eu, impotente, observava a estrada se tornar seus túmulos comuns e chorava por elas, pois elas nem sabiam por quem tinham sido comidas. O massacre mal tinha terminado e as luzes voltaram, atraindo centenas de outras mariposas. Eu joguei pedras nas lâmpadas para impedir o que estava por vir, mas meu braço estava muito fraco para quebrá-las.
- "Você chora pelas mariposas" - Eu ouvi por trás de mim - "Se elas não tivessem morrido, você choraria pelas aranhas famintas". Eu me virei e vi um deles, com seus olhos pretos refletindo meu ódio.- "Eu choro por ambas" – disse, e sai da estrada, enquanto cada passo meu a frente profanava a dignidade das assassinadas.
De repente, a história acaba.
Um comentário:
If you wanna be my friend
You want us to get along
Please do not expect me to
Wrap it up and keep it there
The observation I am doing could
Easily be understood
As cynical demeanour
But one of us misread...
And what do you know
It happened again
A friend is not a means
You utilize to get somewhere
Somehow I didn't notice
friendship is an end
What do you know
It happened again
How come no-one told me
All throughout history
The loneliest people
Were the ones who always spoke the truth
The ones who made a difference
By withstanding the indifference
I guess it's up to me now
Should I take that risk or just smile?
What do you know
It happened again
What do you know
Kings Of Convenience - Misread
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