21 de ago. de 2007

Ostracismo Sentimental



Não, eu não quero ser freelance.
Não quero ser descartável.
Não quero ser necessário.
Quero ser indispensável.

Não, chega de ser freelance.
Chega de ser pontual e sem responsabilidade.
Chega de poder aceitar ou rejeitar quando se quer.
Quero ser fixo.
Quero criar intimidade.
Quero criar expectativas.
Quero fazer parte da sua vida.
Chega de ser diversão de final de semana.
Chega de ser solução para carência casual.
Chega de ser moda ou temporada.
Quero mais.

Não, não vou mais ser freelance.
Quero alguém que goste dos meus serviços.
Que queira sempre meus serviços.
Que sorria com meu sucesso no trabalho.
Que puxe a orelha nos meus fracassos.
Freelance não tem Feedback.
Ele simplesmente não é chamado novamente.
Freelance é taxista.
Fixo é aquisição de bem.
Não precisamos assinar a CLT de pronto.
Podemos ter um tempo de experiência.
Sei que faço bem feito.
Sei que não deixo a desejar.
Às vezes posso até pecar no excesso, mas nunca na omissão.

Não, nunca mais freelance.
Hoje quero ser fixo ou nada mais.
Podemos fazer um estágio, mas muito bem remunerado.
E se não der certo, rompemos o contrato.
Mas, por favor, não me pague no final da noite.
Não esqueça meu aniversário.
Não me fale "até a próxima".
Quero mais que isso.
Quero raízes.
E hoje minhas raízes são as solas do sapato.
Quero somatória.
E hoje sou um conjunto vazio.
Minha independência é a dependência do mundo todo.

Não quero ser freelance.
Quero décimo terceiro.
Quero participação nos lucros.
Não quero ser irrelevante.
Quero ser elevado.
Quero todo ano meu abono sentimental.

Não quero mais ser freelance.
Quero ser promovido.
Disse isso ao contratante.
Disse à consultora Afrodite.
Nunca cheguei a ser fixo.
Hoje não sou mais freelance.
Acabei desempregado.
Alguém pegou minha vaga.
Melhor sorte na próxima.

17 de ago. de 2007

10 Dias de Espera

Acordo cansado. Fico em prantos. Caio no sono. Acordo cansado. Fico em prantos. Caio no sono. Acordo cansado. Trabalhei forçado. Estudei desgostoso. Fico em prantos. Caio no sono. Acordei cansado. Esqueci de escovar os dentes. Esqueci de lavar o cabelo. Acordei cansado. Esqueci de tomar o café. Esqueci o ferro ligado. Esqueci de lavar a roupa. Esqueci de entregar o relatório. Acordei cansado. Acordei com sono. Esqueci de colocar a gravata. Estou nu dentro de casa. Estou cansado. O cansaço me cansa. Estou pensando. Estou lembrando. Acho incentivo. Acho insensato. Acho necessário. Ato falho. Não telefono. Fico em prantos. Caio no sono. Acordei cansado. Estou esquisito. Estou sem fome. Estou vendo que nada acontece aqui. Estou com calor. Estou com frio. Estou com a pressão baixa. Estou com a pressão alta. Estou com enjôos. Estou com ranço de melancolia. Estou olhando você me picando. Estou voltando ao normal. Estou torcendo que você erre a dose. Estou sonolento. Estou com as mãos sujas do dinheiro sujo. Aceno e te quero. Explico o caminho. Enxergo turvado. Acordo forçado. Durmo fácil. Acordo cedo. Perco o sono. Perco a vontade. Perco o equilíbrio. Acho incentivo. Acho insensato. Acho necessário. Ato falho. Não telefono. Choro em pranto. Caio no sono. Perco a hora. Vejo o atestado. Almoço fora. Engulo o choro. Entorpeço pensamentos. Entorpeço pensamentos. Mudo o foco. Saio da rotina. Encontro alguém. Faço o normal. Pago. Perco a vontade. Não acabo. Fico enojado. Perco o rumo. Peço desculpas. Vejo ao longe. Estou santificado. Estou mentindo. Estou pecando. Estou desistindo. Estou desacreditando. Estou indo embora. Sento acuado. Peço a primeira. Não surtiu efeito. Olho o relógio. Peço a segunda. Visão enturva. Chamo meu súdito. Vira meu guru. Ouço palavras. Desacredito. Perco a memória. Peço a terceira. Peço a quarta. Falo alto. Peço a quinta. Fico em prantos. Peço a sexta. Olho o teto. Desconheço. Lembro que esqueci de limpar. Estou fedendo. Não chegou mensagem. Sem ligação perdida. Jogo no chão. Vista girando. Não tenho foco. Não tenho estima. Não tenho ego. Hidrato. Desidrato. Hidrato. Estou nu em casa. Acho incentivo. Acho insensato. Acho necessário. Ato falho. Não telefono. Estou sem vontade. Fico em prantos. Caio no sono. Acordo cansado. Durmo de novo. Acordo cansado. Não levanto. Fiquo lembrando. Sorrio. Fico em prantos. Caio no sono. Acordo. Acho incentivo. Acho insensato. Acho necessário. Ato falho. Telefono. Não me atende. Lembro. Fico em prantos. Caio no sono. Acordo cansado. Trabalhei forçado. Estudei desgostoso. Fico em prantos. Caio no sono.

Recomendação: Esperança é a penúltima que morre. Depois vem você. Ótima semana para vocês também.

13 de ago. de 2007

Destino?

Não, eu não acredito em destino. Não acredito em deixar as coisas rolarem. Eu escrevo minha história e faço meus planos. Se eles dão certo ou não... outra conversa. Acho que quando você deixa as coisas acontecerem, fica parecendo aquelas pessoas à beira da morte, esperando o inevitável, prolongando o resultado certo. Não, não acredito que este seja meu destino. Meu destino é desacreditar no destino. É fazer com que o que eu fui destinado a fazer dê errado. Sim, eu faço o que eu quiser, eu sou meu dono, meu senhor. Destino é desculpa de fracassados. Eu procuro evitar o acaso e tratá-lo como uma variável. Poderia estar lá, mas estou aqui. Você poderia estar lá, mas está aqui. Já imaginaram quantas e quantas vezes você já trombou durante toda a sua vida com aquela pessoa que você julga especial? Talvez tenha cedido o lugar para que ela se sentasse, talvez tenham brigado por furar uma fila ou dar um "encontrão" no meio da rua. Variáveis. São tantas, até que um dia dá certo. E foram tantas tentativas erradas que um dia dá certo. Vocês se encontram e se curtem e depois... depois acaba. Até que você nota o número de vezes deu errado, será que era para realmente dar certo? Será que não demos murro em ponta de faca?
Aprendi algo muito importante nos últimos dias. Viver bem é ter a capacidade de ignorar o que não vale a pena e não vale a pena pensar em como deu errado, vale a pena lembrar de quando deu certo.