15 de dez. de 2008

Escolha

É estranho ver o tempo que passou, olhar para trás e ver que aquilo que você viveu não se repetirá. Perceber que as pessoas amadureceram e que as piadas antigas não tem a mesma graça. Crescemos.
É estranho perceber que precisamos adotar uma certa postura que ontem não era tão importante, que a medida que o tempo passa, nós precisamos nos aprimorar em algo, precisamos conhecer mais coisas, pois as coisas ficaram mais complexas e os motivos mais determinantes na sua vida. Os momentos vão diminuindo a partir do momento em que você se da conta de que o tempo está deteriorando e tudo ao seu redor começando a ruir.
É estranho olhar para trás e perceber que seu tempo vôou. Que ontem as juras de amor eram irrelevantes e hoje são direcionadas e de suma importância. É estranho olhar pela janela de trás do carro e ver o caminho percorrido, até que o começo do caminho não se pode enxergar, torna-se uma lembrança em meio a tantas outras.
Mas para que olhamos pelo retrovisor? Por que apenas não ligamos os faróis altos e atacamos a estrada na noite escura ou no dia chuvoso? Por que tememos a estrada e as vezes ficamos parados no meio do caminho esperando a neblina baixar. Há pessoas que se direcionam sempre pelo caminho contrário a lógica, simplesmente porque querem fugir dela, como se a lógica fosse algo errado, como um status negativo, e que seguí-la pode nos causar danos. Mas elas nunca fogem à lógica, ao plano inicial.
Eu não fugi da lógica, tentei seguí-la, mas parece que um fenômeno natural me tirou da estrada, me colocou em uma encruzilhada que mudaria todo o meu trajeto. Eu tive que escolher.
Nós sempre temos escolhas, boas ou ruins, justas ou injustas, nós nunca saberemos medí-las para conseguir entendê-las, mas as opções existem. A vida é algo temeroso, conturbador, pois ela consegue lhe dar todas as armas necessárias para caçar, mas consegue tirar-lhe a coragem. Muitos ficam olhando a encruzilhada durante anos, sem saber para onde ir, parados, estáticos, congelados no corpo e na alma. Pouquíssimas vezes coloca o pé em uma das estradas para sentir como será o trajeto inteiro e ficam pensando e pensando, sem saber exatamente qual seria o melhor caminho. Muitos se perdem e ficam tão acomodados nesta posição que estacionam o carro e esperam a morte, sem saber que a morte já havia chego quando escolheram parar.
Um dos caminhos é sempre o mais lógico, o mais correto, o mais ético, sempre buscamos o caminho mais prático, aquele que podemos percorrer na luz do dia, onde as coisas normais acontecem, sem segredos, deslizes ou preocupações. No fundo, você sempre terá dúvidas de como seria o outro caminho, mas acaba esquecendo quando tem de lidar com as intempéries do percurso. Mesmo nos caminhos mais lógicos há muita coisa a ser feita. O caminho "certo" pode representar uma calma e despreocupação, mas para muitos ele se torna um fardo, pois a escolha inicial não seria essa, ele se torna sinuoso, cansativo e entediante. Muitos acabam querendo voltar no meio do caminho, então o que era difícil se torna ainda mais complicado, pois você sempre deixa pegadas, pois escreveu uma história fazendo esse caminho. Voltar tudo para partir do zero é bem mais difícil. Portanto preste atenção nas suas escolhas.
O outro caminho é o caminho mais fechado, perigoso, tenso e inseguro. A mata é fechada, não deixando com que os olhos olhem com clareza a extensão da estrada, o dia se torna noite e nossos olhos tem que se acostumar na escuridão. Você vive nas sombras, nos restos de vida, na borda, na marginalidade. Você busca a satisfação no feixe de luz que penetra a mata. É difícil e você sempre se pergunta se aquele caminho do qual você fugiu não teria um pouco mais de iluminação e um pouco mais de ar para respirar. Você se esconde, não porque você quer, mas porque a mata te camufla em meio as suas descobertas. Aos poucos, seus passos ficam mais fortes e seguros, seus olhos acostumam-se com a escuridão, seus ouvidos mais aguçados, suas garras mais afiadas, afinal de contas você sabe o que precisará enfrentar. E então você encontra outros tantos no escuro, andando ao seu lado, buscando respirar o ar que teima em faltar. Você começa a se cansar, começa a se questionar sobre esse tipo de vida, e então, começa a arriscar. Aquele feixo de luz que você encontrou e que parece ser a única válvula de escape para uma vida normal está na sua frente. Com os punhos e mãos fortes começa a abrir pequenas clareiras na estrada, a luz invade, e o ar começa a ficar bem mais acessível. Parece que perdemos tempo em ficar tanto tempo embaixo dos nossos medos respirando o resto do mundo, nos preocupando com o que os outros pensariam de nos ver neste caminho. Eu não mudei ao virar para esquerda ou para a direita, eu apenas fiz uma curva. Pois bem, ao abrir uma clareira, a luz resplandece sua face e você fica exposto. Você deixa pegadas, abre caminhos e cria rastros, que podem ser interpretados de qualquer maneira. Mas você está forte. Seus pulmões estão fadigados de respirar ar pesado, e o oxigênio que os penetra parecem pedras de pano e chuva de confete. Não o atinge mais. Você se torna feliz e independente de toda aquela ladainha que transcede os tempos e alarda nossa paciência. Somos os donos do nosso espaço, da nossa vida e da nossa felicidade. Ficamos expostos sim, mas que os incomodados não nos olhem, não nos sigam. Eu continuarei neste caminho, onde os sonhos são mais coloridos que os dias cinzas que antecederam as escolhas. Eu continuarei a seguir a meta de ser apenas feliz, sem a preocupação de manter aparências para felicidades ilusórias. As escolhas devem ser feitas pelo seu bom senso, pela sua balança pessoal em medir o que realmente importa para você. Suas metas são escolhidas antes de fazer a curva. Dificilmente encontrará alguém que voltou, esses são duas vezes corajosos, pois absorveram mais coragem em muitos anos de convardia. Mas pense bem antes de escolher, essas escolhas mudam o curso da sua vida.
Sigamos, portanto, sempre adiante. O leite derramado poderá ser limpo, e apenas limpo. Não poderemos beber, apenas secar o chão e comprar outro. Precisamos parar de achar culpados para os nossos fracassos. Sigamos até que a morte nos ronde e peça para que paremos. Sigamos até que o último dos nossos dias seja vivido de forma sincera e verdadeira. Então mantenha os espelhos para que tenhamos uma referência, olhe para trás quando parar apenas para medir o que foi bom e ruim, e continue em frente, porque sempre haverão pedras, buracos, curvas sinuosas e caminhos alternativos que poderemos tomar. Alguns deles perigosos, alguns deles ilusórios, alguns deles sem volta, mas cabe a nós mesmos termos a competência de escolher o melhor.
Sigamos e apenas isso, essa é a nossa vida, essas são as nossas escolhas e essa é a nossa felicidade. De mais ninguém. E os incomodados, bem, eles que olhem para o outro lado, afinal de contas, nós nem estamos no caminho deles.